Friday, December 5, 2008

A Lenda de Loki e da Mulher-Camarão


Era uma vez um garoto que vivia seus vinte e poucos anos e fazia um curso universitário em que a população masculina era avassaladoramente maior do que a feminina. O chamavam de Loki, porque ele era muito loki (Hermes e Renato™) mesmo. Loki pensava ter atingido sua maturidade. Era praticamente independente, tinha muitos amigos e morava numa república onde só rolava festa, churrasco e bebedeiras em geral. Porém nem sempre era fácil de se arrumar mulher neste ambiente de constante de competição pelas fêmeas, tão raras, tão hiper-valorizadas. Loki não era um bom exemplo de beleza masculina. Era deveras normal, não era de se jogar fora e, secretamente, se julgava um tanto charmoso.

Inevitavelmente, Loki foi ficando cada vez menos seletivo no momento de eleger suas parceiras sexuais, naturalmente, com o passar do tempo. Ele mesmo podia constatar este fato quando ia passear no shopping, que ficava um tanto fora da órbita de sua universidade, e incrivelmente só tinha gostosa lá. Ele sabia que não eram as meninas que haviam ficado mais atraentes, quem tinha mudado ali era ele.

Lá pelo quarto ano de sua faculdade, mulher gostosa para Loki era sinônimo de bonita. Na verdade, mulher era quase sinônimo de gostosa (mas isso foi apenas uma fase ruim). Não havia distinção entre mulheres que portavam somente a qualidade "gostosa" e as que portavam somente a qualidade "bonita". Elas pertenciam ao mesmo grupo.

Eventualmente, próximo de sua formatura, Loki arrumou uma namorada bonita e, acreditem se quiser, gostosa. Loki também conquistou um bom emprego e começou a elevar um pouco o nível dos locais que freqüentava. Ele não deixou de gostar dos botequinhos sujos da faculdade, entretanto.

Depois de uns dois anos da sua formatura, Loki terminou o namoro com a menina bonita, inteligente e gostosa, por motivos que são irrelevantes para esta história. O importante é que Loki lançara-se mais uma vez ao mercado de solteiros, e suas noites nos bares e casas noturnas da cidade voltaram a ser regidas pela lei da oferta e da procura. A memória residual dos tempos de faculdade, mulher bonita era a mesma coisa que mulher gostosa, voltou a habitar seu subconsciente. E foi em estado de profunda ausência de sexo que os eventos que seguem aconteceram, mas precisamos esclarecer algo antes: Loki não acreditava na lendária mulher-camarão. Ele dizia que isso não existia, pensando no âmago de seu ser que esta figura folclórica, e repulsiva para alguns, aos seus olhos seria muito atraente.

Eis que numa dada sexta-feira de verão, Loki, solteiríssimo, foi a uma festa. Ele ainda adora o verão, tem uma tara nada secreta por coxas e mini-saias, coisas nem um pouco raras no Brasil. Ele estava ali, no mercado, e avistou o melhor par de coxas da festa inteira, acompanhado da melhor cintura, bunda e seios de todo o universo. Alguma coisa estava errada, porque aquela mulher não estava sendo xavecada como as outras, estava sozinha... E apreciava uma bebida.

Loki começou a achar que Deus existe, e quando viu o rosto da menina, teve uma sensação parecida com aquela que a gente tem quando vê uma vaga livre num estacionamento lotado, só para depois perceber que é de deficiente físico. Era ela! A MULHER CAMARÃO EXISTE! Neste momento o corpo de Loki se dividiu. Ele ao mesmo tempo que sentia um tesão imenso, tinha claro para si que beijar aquilo ali era repulsivo. Sua cabeça dizia "CORRE! CORRE!" e a outra dizia "PEGA! PEGA!", e silhueta de Loki começou a ficar visivelmente torta, com o quadril totalmente para frente e a cabeça totalmente para trás. Essa situação passou a ficar totalmente perigosa quando Loki percebeu que o lado de baixo venceu a batalha travada dentro do seu corpo, e que com isso, seu corpo ganhou velocidade em direção a Mulher Camarão.

Sílvia estava tomando champanhe com licor de cassis, ela adora coisa chique. Estava tendo um dia perfeito. Promoção no trabalho, férias marcadas para a semana que vem em Fortaleza e agora curtia este momento delicioso de realização numa festa genial. Ela realmente não entendeu quando levou um carrinho de um cara que estava obviamente de pau duro.

No comments:

Post a Comment